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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Você sabe o significado da esfera armilar nas moedas de réis?

Encontramos a esfera armilar cunhada em várias moedas de réis de diversas épocas.
Hora encontramos no anverso, hora no reverso. Hora dentro do brasão, hora sozinha.
E não importa o metal utilizado para cunhar as moedas, a esfera armilar está quase sempre presente.

Mas o que é uma esfera armilar?

De forma bem sucinta, o grande globo exterior mostra a esfera celeste; a pequena bola no centro, a Terra. A esfera é mostrada através de anéis ou armilas, vocábulo que designa anéis, braceletes ou argolas e de onde deriva o nome «armilar». Esses anéis indicam os principais círculos: os polos, os trópicos, os meridianos e o equador. A esses círculos acrescenta-se uma banda diagonal, que deveria estar inclinada 23,5º em relação ao equador, mas que muitas vezes se apresenta com outras inclinações, por motivos puramente estéticos. Trata-se da banda do zodíaco, uma banda de mais e menos 8º graus em torno da eclíptica, a linha que traça o movimento aparente de Sol através do céu e que passa pelos chamados signos do zodíaco. 



Era utilizada para ensinar astronomia, fazer cálculos de geometria esférica, e reconhecer a posição dos astros em diferentes épocas do ano. A concepção das esferas e seu posicionamento mudavam de acordo com o sistema cosmológico do autor.

O instrumento que funciona como um almanaque náutico, usa o sol do meio dia como referência das estrelas que surgem e se põem no horizonte durante o entardecer e alvorecer e uma vez, conferindo a altura do sol com a latitude pela estrela polar era possível saber a data aproximada.

A esfera armilar que tinha por finalidade projetar os planos de inclinação de um observador nas coordenadas da esfera superior podia ser usada também para interpolar as horas diretamente segundo a posição da Ursa Menor, deveria então o instrumento ser usado à noite, fixo a um altar no cume das elevações para que pudessem ver o polo celeste, a observação era acompanhada por um recital semelhante a uma reza. A inclinação do eixo do instrumento deve ser igual à latitude local, ou seja, paralela ao prolongamento do eixo da terra na direção do polo celeste.

Mas como ela foi parar nas moedas?
Vamos rapidamente acompanhar seus passos até aparecer na cunhagem nas modas.

A esfera armilar ("a esfera dos matemáticos" conferida como divisa por D. João II ao seu primo e cunhado, D. Manuel (futuro rei D. Manuel I), que, tendo escrito no meridiano "Spera Mundi" - Esfera do Mundo - foi, mais tarde, interpretada como sinal de um desígnio divino para o reinado de D. Manuel que se apresenta nos motivos artísticos do estilo como "Esperança do Mundo", como também poderia ser interpretada a expressão aí inscrita).


Em seis gravuras constantes da edição das Ordenações de 1514 - a única ilustrada - vemos o rei em majestade, portando uma coroa aberta e armadura, ladeado pela sua divisa, a esfera armilar e pelas armas do Reino, representada pelo escudo manuelino.
Na época, as esferas armiliares eram identificados como uma pessoa constante no traço de caráter.

A esfera armilar era, inicialmente, o emblema pessoal do Rei D. Manuel I.
A esfera armilar tornou-se, a partir de D. Manuel, um símbolo de poder marítimo, político e econômico associado às navegações. 

Provavelmente, em 1692, foi introduzida a bandeira branca com a esfera armilar dourada para as embarcações na navegação para o Brasil. E apesar da esfera armilar representar todo o Ultramar Português, ela começou a ser usada mais intensivamente no Brasil - o seu maior e mais desenvolvido território da época - não só em bandeiras marítimas, mas também em moedas e em outros suportes. Por isso, acabou por se tornar o emblema oficioso do Brasil.

Quanto à numária, verificamos nela um processo curioso e até surpreendente. Nas espécies em circulação no Reino, D. Manuel evitou impor a presença da esfera armilar. Essas moedas, com efeito, apresentam na sua tipologia as armas reais (presentes em todas as moedas metropolitanas, mas com significativas variações de representação, desde as simples quinas até ao escudo coroado); o castelo com as faixas ondadas (só nos ceitis); o monograma coroado (nos reais, meios reais, cinquinhos e vinténs); a cruz de Avis (nos meios vinténs); a cruz chã (nos meios tostões e nos cruzados); e a cruz de Cristo (nos tostões, dois tostões e nos portugueses)

No reinado seguinte, esta situação manteve-se: D. João III usou a esfera exclusivamente no reverso das moedas emitidas no Oriente, alternando-a embora com a figura de São Tomé. 

A presença da esfera na numária brasileira remonta a um período mais tardio, visto datar do reinado de D. Pedro II. A moeda provincial de prata, cunhada na Cada da Moeda Bahia, entre 1695 e 1702, abrangia seis espécies, cujos valores de circulação eram de 640, 320, 160, 80, 40 e 20 réis. 

No reverso de todas estas espécies, figurava um tipo uniforme, tendo uma cruz de Cristo (comum à moeda da Metrópole) sotoposta a uma esfera armilar, com a legenda “SVBQ. SIGN. NATA. STAB.”. 
A legenda remete para o nascimento do Brasil sob o signo da cruz (tanto pela introdução do Cristianismo) e da esfera armilar (tomada portanto como símbolo dos reinados de D. Manuel I e, talvez, de D. João III).

Uma Carta de Lei de 1816 refere que o Reino do Brasil tenha por Armas uma Esfera Armilar de ouro em campo azul. 
A mesma carta de lei refere que o Escudo Real Português (representando Portugal e Algarve) assente sobre a dita Esfera Armilar de Ouro em campo azul (representando o Brasil), com uma Coroa sobreposta passasse a constituir as Armas do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.


A Carta de Lei não se refere a modelos específicos de bandeiras, mas refere que os emblemas então criados passassem a ser usados em todos os estandartes, bandeiras, selos reais, cunhagens de moedas e nas demais utilizações como se tinha feito, até então, das armas antecedentes.

A carta faz referência explícita a um antecedente histórico, referindo-se à ideia de “incorporar em hum só Escudo Real as Armas de todos os três Reinos.

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