Introduzido no séc. XVI por D. Manuel I, circulou durante mais de 500 anos. Originalmente era uma bonita moeda de prata, viu terminar os seus dias em 1942 no Brasil e em 1979 em Portugal como uma minúscula moeda de alumínio.
Era então motivo de chacota e corriam as anedotas sobre ela:
• Chamam-lhe o “Marcelino” em referência a Marcelo Caetano, então Primeiro-ministro do Estado Novo (destituído pelo golpe militar de 25 de Abril de 1974);
• Era denominado de “moeda flutuante” pois, posto cuidadosamente à superfície de um copo de água, flutuava suspenso apenas pela tensão superficial da água;
• Na época colocava-se um punhado de “marcelinos” na palma da mão, soprava-se e dizia-se que o número de moedas que ficasse na mão, era igual ao número de anos que Marcelo Caetano se ia aguentar no governo.
História da sua origem
Quase até ao final do séc. XV há falta de metais preciosos na Europa. A moeda é por isso cunhada sobretudo em bolhão, uma liga de baixo teor de prata.
Quase até ao final do séc. XV há falta de metais preciosos na Europa. A moeda é por isso cunhada sobretudo em bolhão, uma liga de baixo teor de prata.
A moeda medieval é normalmente de baixa espessura a fim de aumentar a duração dos cunhos.
É pois uma grande novidade quando, em 1474, é pela primeira vez cunhada no Ducado de Milão uma bonita moeda com grande teor de prata, grande módulo e espessura e em que a cabeça do governante aparece sem qualquer coroa ou seja, de “testa nua”; daí serem as moedas apelidadas de TESTONES e , posteriormente,TOSTÕES.
O seu sucesso faz com que de seguida a moeda seja copiada por outros ducados e depois por outros estados europeus: Em França Luís XII emite em 1513 o TESTON DE DEZ SOLDOS e, em Inglaterra, Henrique VIII cunha em 1504 o XELIM DE DOZE PENCE, inicialmente denominado TESTOON ou TESTON.
Nascimento do Tostão em Portugal
Corria o reinado de D. Manuel I. O obsoleto sistema monetário em uso era baseado no REAL BRANCO; era um sistema confuso em que o valor da moeda era fixo por decreto real.
Em 1504 D. Manuel I reformula todo o sistema monetário com base no sistema decimal e com uma nova unidade monetária: O Real (plural Reais).
O Cruzado era a moeda de conta nas grandes transações comerciais. Nas pequenas transações era o Vintém (20 Reais) a moeda de conta. Tudo isto é tido em conta nos valores do novo sistema.
Pela primeira vez aparecem algumas moedas com marquilha (Valor da moeda): Português de prata (X Vinténs), Tostão (V Vinténs) e o Real (R).
Enquanto D. Miguel é rei são fundidos os canhões e os sinos da ilha Terceira para cunhar, em nome de D. Maria II, os 80 reis de 1829 (Maluco). Em 1830 são cunhados em Londres os V e os X réis de cobre (D. Maria II). Em 1833 são cunhados no Porto, durante o cerco, os V, X e 40 Réis - Série LOIOS de D. Maria II. Em 1834 são carimbados os REALES A OCHO
espanhóis para os valorizar em 870 réis.
Há por conseguinte muita moeda em circulação, das mais variadas origens e muita dela é falsa. Excepto em Inglaterra, todos os países Europeus
utilizam já o sistema decimal.
Há necessidade de cunhar nova moeda pelo que é a altura ideal para introduzir o sistema decimal o que é feito pela Lei de 24 de Abril de 1835. Mantêm-se as legendas em latim. A partir desta data todas as moedas têm marquilha, sendo as de cobre em algarismos romanos e as de prata e ouro em algarismos arábicos.
Tostões de D. Maria II: Não se cunharam tostões pela lei antiga. Cunharamse em prata de 916,6‰ com 19 mm de diâmetro e 2,96 gramas. Marquilha “100” e com as datas de 1836, 1838, 1843, 1851, 1853 e (1853 Proof).
Tostões de D. Pedro V: Cunharam-se em prata de 916,6‰ com 20 mm de diâmetro e 2,50 gramas. Marquilha “100” e com as datas de 1857, 1858, 1859, (1859 Proof) e 1861.
Tostões de D. Luís I: Cunharam-se em prata de 916,6‰ com 20 mm de diâmetro e 2,50 gramas. Marquilha “100”. Conhecidos 22 tipos com datas de 1862 a 1889.
Tostões de D. João Regente: Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha LXXX. Conhecem-se 3 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.
Tostões de D. João VI: Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha LXXX. Conhecem-se 3 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.
Tostões de D. Pedro IV: Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha LXXX. Conhece-se um tipo,cunhado em Lisboa e sem data.
Tostões de D. Miguel I: Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha LXXX. Conhecem-se dois tipos, cunhados em Lisboa e sem data.
Lei de 24 de Abril de 1935 – Sistema decimal
Quando em 1834 D. Maria II toma finalmente posse do trono, para além das cunhagens regulares dos reinados anteriores, há muita moeda cunhada para fazer face às necessidades da guerra e também para afirmação política.
Correm os patacos de Bronze cunhados por D. João Regente, D. João VI, D. Pedro IV, D. Miguel e os cunhados no Porto em nome de D. Maria II.
(1) No início do reinado valia 390 Reais Brancos. Em 1517 passou a valer 400 Reais.
(2) Esta moeda só existe nas crónicas e nunca foi cunhada sendo que os dois exemplares no Museu Numismático são moedas de fantasia: Quarto de Cruzado, Moeda de ouro, do tamanho de hum Vintém, lavrou-a ElRey D. Manoel depois da morte da Rainha D. Maria ſua mulher, e a trazia na bolſa para dar aos pobres; valia 100 réis.(In “Historia genealógica da Casa Real Portugueza” de António Caetano de Sousa).
(3) A marquilha XX só aparece a partir de D. João III.
Tostões de D. Manuel I: Moeda em prata de 916,6‰ com 28 mm de diâmetro e um peso de 9,3 a 10 gramas. Na frente quase todas apresentavam uma marquilha, V, significando cinco vinténs. No verso apresentavam a Cruz de Cristo e, pela primeira vez, a legenda IN HOC SIGNO VINCES. Foram cunhados em Lisboa e no Porto, com 67 tipos diferentes.
Tostões de D. João III: Moeda em prata de 916,6‰ com 30 mm de diâmetro e um peso de 9,3 a 10 gramas. Na frente quase todas apresentavam uma marquilha, V, significando cinco
vinténs. Inicialmente ostentavam a Cruz de Cristo mas, pela Lei de 10 de Julho de 1555, assaram a ostentar a Cruz de Avis.
Tostões de D. Sebastião: Moeda em prata de 916,6‰ com 30 mm de diâmetro e peso de 8,8 gramas. sem marquilha. Inicialmente apresentam a Cruz de Avis mas, pela Lei de 22 de Abril de 1570 voltam a ostentar a Cruz de Cristo.
Ambos cunhados em Lisboa e no Porto e com cerca de 60 tipos conhecidos.
Tostões dos Governadores do Reino: Moeda em prata de 916,6‰ com 30 mm de diâmetro e 6,65 gramas de prata.
Sem marquilha. Apenas se conhece um tipo.
Tostões de D. António I: Moedas em prata de 916,6‰ que inicialmente tinham 30 mm de diâmetro e 8,6 gramas de prata.
Sem marquilha. As vicissitudes do reinado obrigaram a reduzir o seu diâmetro para 24mm e depois para 22mm. Apenas uma foi cunhada em Lisboa; as restantes foram cunhadas em Angra do Heroísmo de onde D. António partiu para o exílio.
Tostões de D. João V: Em prata de 916,6‰ de 21 mm de diâmetro e com 3,27 a 3,6 gramas. Todos com serrilha e marquilha LXXX. Conhecem-se 14 tipos cunhados em Lisboa todos em data.
No Porto foi cunhado apenas um tipo com data de 1707
Tostões de D. José I: Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha LXXX. Conhecem-se 11 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.
Tostões de D. Maria I e D. Pedro III: Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha LXXX. Conhecem-se 3 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.
Tostões de D. Maria I: Em prata de 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,06 gramas. Marquilha LXXX. Conhecem-se 7 tipos, todos cunhados em Lisboa e sem data.
Ou seja
Para aumentar a confusão monetária, D. Pedro II manda ainda carimbar Cruzados velhos com “500”e Meios Cruzados velhos com “250”. Significava que, simultaneamente, corriam Cruzados com marquilha “400” a valer 480 réis, Cruzados com carimbo “500” valendo 500 réis, Meios Cruzados com marquilha “200” valendo 240 réis e Meios Cruzados com carimbo “250” valendo 250 réis.
Com D. João V, apesar de se terem introduzido novas espécies monetárias em ouro, a regra dos 20% manteve-se. Só em 1853, 147 anos depois e com a introdução do sistema decimal, é que este original “desenrascanço à portuguesa” finalmente desapareceu.
Tostões de D.Pedro II (nova lei): Em pratade 916,6‰ com 22 mm de diâmetro e 3,46
gramas. Marquilha LXXX. Cunhados em Lisboa, sem data, conhecidos 19 tipos.
Também cunhados no Porto com datas de 1689, 1690, 1691, 1692, 1693, 1696, 1697, 1699, 1700 e 1702.
D. Filipe I proibiu a posse destas moedas e mandou entregá-las no prazo de 15 dias; a pena pelo não cumprimento era a forca. São todas extremamente raras.
Foram também carimbados com um “Açor” alguns exemplares dos reinados anteriores.
Tostões de D. Filipe I: Moeda em prata de 916,6‰ de 32mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Todas cunhadas em Lisboa.
Há 28 tipos conhecidos.
Tostões de D. Filipe II: Moeda em prata de 916,6‰ de 32 mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Todas cunhadas em Lisboa.
Há 49 tipos conhecidos.
Tostões de D. Filipe III: Moeda em prata de 916,6‰ de 30mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Todas cunhadas em Lisboa.
Há 30 tipos conhecidos.
Tostões de D. João IV: Pela Provisão de 14 de Fevereiro de 1641 foram cunhados em prata de 916,6‰ de 28 mm de diâmetro e 8,19 gramas. Sem marquilha. Cunhadas em Lisboa. Há
12 tipos conhecidos. Pela primeira vez há algumas com a data de 1641. Pela Provisão de 1 de Julho de 1641 mantêm o módulo mas o peso é reduzido para 6,74 gramas.
São cunhados em Lisboa com as datas de 1641 e 1642. Há 19 tipos conhecidos.
Pelo Alvará de 8 de Junho de 1643 o peso é reduzido para 5,73 gramas, com
26mm de diâmetro. São cunhados em Lisboa, Porto e Évora e não têm data.
Há 53 tipos conhecidos.
Com o Carimbo “100” foram marcados vários “LXXX reais” de reinados
anteriores.
Tostões de D. Afonso VI: Pela Lei anterior, em prata de 916,6‰ com 26 mm de diâmetro e 5,73 gramas. Sem marquilha. Cunhados em Lisboa com 5 tipos conhecidos e sem data.
Pela Lei de 22 de Março de 1663 passam a 24 mm e 4,58 gramas. Não têm data e há 20 tipos conhecidos. Com o Carimbo “100” foram marcados vários “LXXX reais” de reinados anteriores.
Tostões de D. Pedro Regente: Pela Lei de 22 de Junho de 1676, cunhados em prata de 6,6‰ com 24 mm e 4,58 gramas. Sem marquilha. Apenas se conhece um exemplar cunhado em Lisboa.
1677-Início da cunhagem mecânica
Em finais de 1677, era D. Pedro o Príncipe Regente em nome de seu pai D. Afonso VI. A proposta de D. Luís de Menezes, terceiro Conde da Ericeira e Vedor da Fazenda, é aceite por D. Pedro e dá-se início à cunhagem mecânica usando para o efeito uma prensa de balancé. Tostões de D. Pedro Regente: Pela Lei de 22 de Junho de 1676, com 24 mm e 4,32 gramas. Sem marquilha. Cunhados em Lisboa, sem data. Há 7 tipos conhecidos.
Tostões de D. Pedro II: Decreto de 28 de Setembro de 1683 cunhados em prata de
916,6‰ com 24 mm e 4,32 gramas. Sem marquilha. Cunhados em Lisboa, conhecem-se dois tipos.
A matéria continua em um outro post.
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